A UPH (União presbiteriana de homens) tem como objetivo oferecer aos homens oportunidades de companheirismo e confraternização. A UPH orienta os homens da Igreja a cultivarem a sua vida espiritual ouvindo preletores, estudando as Escrituras e orando. Aprendem também como relacionar-se melhor com a esposa e os filhos, como lidar com tentações e aumentar os vínculos familiares. São oferecidos cursos de treinamento de liderança, café ou jantar mensal, palestras sobre temas variados, além do auxilio a homens da Igreja que estão procurando emprego ou passando por dificuldades.

domingo, 14 de junho de 2009

Pecado, pecadinho, pecadão...


de Solano Portela, do blog tempora-mores

Explicando o post: Alguns anos atrás foi publicado o livro de multi-autoria ao lado: “Disciplina na Igreja: Uma Marca em Extinção”. Pessoas, realmente conhecidas, como George Knight, Augustus Nicodemus e Valdeci Lopes, escreveram seus capítulos e, por alguma razão indecifrável, coube-me contribuir com dois capítulos. Sou, portanto, um interessado no assunto e achei muito bom os dois últimos posts colocados pelo Dr. Augustus (ausência de disciplina de líderes e sobre Mateus 18). Neles, temos algumas aplicações bem contemporâneas, sobre disciplina bíblica; além do tratamento de outros aspectos que estão presentes no livro em questão. As interações dos leitores, nos comentários desses dois posts, têm sido igualmente bem interessantes. No meio de muitas observações pertinentes e perguntas estimulantes, várias delas confundem a existência do amor real com ausência de disciplina, não compreendendo como esses dois aspectos são biblicamente complementares. Outros comentários observaram a suposta igualdade dos pecados. Um deles disse que a gradação de pecados era uma caracerística "humana" e não divina. Outro, disse que se uma determinada disciplina é aplicada a pecados específicos, porque não tratar todos os pecados (inclusive, foi mencionado o de glutonaria) com penalidades idênticas. A questão da igualdade, ou não, dos pecados, não foi abordada neste livro já mencionado e achei que caberia aqui um post, ainda na mesma linha de pensamento dos dois anteriores.

Todo pecado é igual?
De certo modo é correto se afirmar que todos os pecados são iguais. Em certo sentido, todos os pecados são odiosos perante Deus e suficientes para nos alijar da comunhão eterna com ele. Por isso somos recebedores tão somente de sua graça infinita (em Cristo Jesus) e não temos qualquer mérito em qualquer suposta “vida moral” ou com pouca incidência de pecados, ao sermos aceitos por ele.

Assim nos ensina a Pergunta 152 do Catecismo Maior de Westminster, que diz:
“O que cada pecado merece da parte de Deus”?
R: Todo pecado, até o menor, sendo contra a soberania, bondade, santidade de Deus, e contra a sua justa lei, merece a sua ira e maldição, nesta vida e na vindoura, e não pode ser expiado, senão pelo sangue de Cristo.

As referências dadas são: Tg 2.10,11; Ml 1.14; Dt 32.6; Hc 1.13; I Pe 1.15,16; Lv 11.45; I Jo 3.4; Gl 3.10; Ef 5.6; Pv 13.21; Mt 25.41; Rm 6.21,23; Hb 9.22; I Jo 1.7; I Pe 1.18,19, das quais citamos apenas Tiago 2.10: “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos”.

Há, portanto um grau de veracidade na afirmação – “todo pecado é igual” - o menor dos pecados já nos faz culpados por não guardar os princípios de justiça de Deus. No entanto, essa afirmação deve ser bem entendida e qualificada, pois não representa o todo da verdade. Por exemplo, ouvi uma pessoa comentando e defendendo um pecado cometido por um líder evangélico, comparando-o com uma mentira cometida por ele próprio (o defensor). Ele disse: “... o erro do .... foi tão grave diante de Deus quanto o foi hoje de manhã eu ter pedido que dissessem que eu não estava, só para não atender o telefonema de um ‘amigo’ chato”.
Existe, ou não, diferenciação de pecados?
Acontece que não é bem assim, como colocou a pessoa acima, pois é o próprio Deus que nos ensina existir uma GRADAÇÃO de pecados - alguns realmente, são mais odiosos do que outros. E essa é a interpretação, também, do Catecismo Maior da Confissão de Fé de Westminster, exatamente nas perguntas que precedem a que já examinamos, acima. As perguntas 150 e 151 mostram que a idéia de que não existe “pecadinho” e “pecadão” é uma noção comum, muito propagada em nossas igrejas, mas não é Bíblica. As respostas a essas perguntas 150 e 151, mostram o sentido em que são diferentes, enquanto que a resposta à 152, mostra o sentido no qual os pecados são iguais. Vejamos:

Pergunta 150.
"São todas as transgressões da lei de Deus igualmente odiosas em si mesmas à vista de Deus"?
R: Todas as transgressões da lei de Deus não são igualmente odiosas; mas alguns pecados em si mesmos, e em razão de diversas circunstâncias agravantes, são mais odiosos à vista de Deus do que outros.
Refs.: Hb 2.2,3; Ed 9.14; Sl 78.17,32,56.
Pergunta 151.
"Quais são as circunstâncias agravantes que tornam alguns pecados mais odiosos do que outros"?
R: Alguns pecados se tornam mais agravantes:
1º) Em razão dos ofensores, se forem pessoas de idade mais madura, de maior experiência ou graça; se forem eminentes pela vida cristã, dons, posição, ofícios, se forem guias para outros e pessoas cujo exemplo será, provavelmente, seguido por outros.
Refs.: Jr 2.8; I Rs 11.9; II Sm 12.14; I Co 5.1; Tg 12.47; Jo 3.10; II Sm 12.7-9; Ez 8.11,12; Rm 2.21,22,24; Gl 2.14.
2º) Em razão das pessoas ofendidas, se as ofensas forem diretamente contra Deus, seus atributos e culto, contra Cristo e sua graça; contra o Espírito Santo, seu testemunho e operações; contra superiores, pessoas eminentes e aqueles a quem estamos especialmente relacionados e a quem devemos favores; contra os santos, especialmente contra os irmãos fracos; contra as suas almas ou as de quaisquer outros, e contra o bem geral de todos ou de muitos.
Refs.: I Jo 5.10; Mt 21.38,39; I Sm 2.25; Rm 2.4; Mt 1.14; I Co 10.21,22; Jo 3.18,36; Hb 6.4-6; Hb 10.29; Mt 12.31,32; Ef 4.30; Nm 12.8; Pv 30.17; Zc 2.8; I Co 8.11,12; I Ts 2.15,16; Mt 23.34-38.
3º) Pela sua natureza e qualidade de ofensa, se for contra a letra expressa da lei, se violar muitos mandamentos, se contiver em si muitos pecados; se for concebida não só no coração, mas manifestar-se em palavras e ações, escandalizar a outrem e não admitir reparo algum; se for contra os meios, misericórdias, juízos, luz da natureza, convicção da consciência, admoestação pública ou particular, censuras da igreja, punições civis; se for contra as nossas orações, propósitos, promessas, votos, pactos, obrigações a Deus ou aos homens; se for feita deliberada, voluntária, presunçosa, imprudente, jactanciosa, maliciosa, freqüente, e obstinadamente, com displicência, persistência, reincidência, depois do arrependimento.
Ref.: Ez 20.12,13; Cl 3.5; Mq 2.1,2; Rm 2.23,24; Pv 6.32-35; Mt 11.21-24; Dt 32.6; Jr 5.13; Rm 1.20,21; Pv 29.1; Rm 13.1-5; Sl 78.34,36,37; Jr 42.20-22; Sl 36.4; Nm 15.30; Ez 35.5,6; Nm 14.22,23; Zc 7.11,12; Pv 2.14; Jr 9.3,5; II Pe 2.20,21; Hb 6.4,6.
4º) Pelas circunstâncias de tempo e de lugar, se for no dia do Senhor ou em outros tempos de culto divino, imediatamente antes, depois destes ou de outros auxílios para prevenção ou remédio contra tais quedas; se em público ou em presença de outros que são capazes de ser provocados ou contaminados por essas transgressões.
Ref.: Is 22.12-14; Jr 7.10,11; Ez 23.38; Is 58.3,4; I Co 11.20,21; Pv 7.14,15; Ne 9.13-16; Is 3.9; I Sm 2.22-24.
Se estudarmos com maior profundidade a questão, portanto, aprendemos que realmente existe gradação. Uma outra maneira de verificar isso é pelas diferentes penas aplicadas aos diversos crimes na lei judicial (ou civil) de Israel. Essa Lei foi dada pelo próprio Deus.

É cristão demonstrarmos entendimento e solidariedade, na face do arrependimento sincero. Na ausência desse, a Palavra nos manda até quebrarmos as associações de amizade (nem mesmo "comer" com o impenitente, para que ele, sacudido por esse terremoto social, se arrependa – 1 Co 5.11). Podemos (e com frequencia fazemos) quebrar os princípios de justiça de Deus, desprezando a disciplina; achando que são passos injustos; ou seja, querendo exceder a benevolência e benignidade de Deus - sermos mais caridosos do que ele nos manda ser. Quando isso ocorre no seio da família - expressamos um amor equivocado, não disciplinamos os filhos, criamos seres que desrespeitam a hierarquia e que se dão mal - no futuro. Quando fazemos no seio da igreja, contribuímos para a concretização de uma igreja doentia e conivente com o pecado.

O mesmo erro deve ser sempre penalizado de forma igual?
Um outro argumento utilizado pelos que querem enfatizar tão somente a igualdade dos pecados (não somente entre si, mas também quando cometidos por pessoas diferentes) é dizer que seria incoerência penalizar pessoas de forma diferente, desde que cometam o mesmo erro.

Como já vimos, não é isso o que ensina a Palavra nem o que registram as Confissões reformadas. Existe, sim, diferenciação de gravidade, mesmo tendo sido cometido o mesmo pecado. A questão é que o pecado não é só o incidente isolado (é até impossível se isolar um incidente), mas não pode ser ignorada a forma como ele afeta mais ou menos pessoas. Pecados cometidos por lideranças, são muito mais graves do que o mesmo pecado cometido por alguém que esteja sendo instruído na fé.

Pecados “mais” e “menos ruins”:
Existe um conceito relativo (do zero para baixo) nos pecados - com relação a ruindade intrínseca de cada um. Concordamos que qualquer pecado é suficiente para nossa condenação, mas temos que reconhecer que o que concebe, mas não pratica, pecou um pecado "menos ruim" do que aquele que o levou às suas últimas conseqüências. Quanto mais o pecado se alastra (como no caso de David, que tentava acobertá-lo) mais pessoas são atingidas e mais sofrimento é gerado.A parte prática está exatamente no dano que um líder causa, quando peca. Não é errado esperarmos um comportamento exemplar (no contexto de que somos todos pecadores) da parte do líder (1 Tm 4.12), pois assim a Palavra no direciona. O Salmista pede que nós não sejamos "causa de vergonha" (Sl 69.6). O dano ao evangelho é muito grande, quando o pecado está presente e é observado na vida do líder.

Ainda que todos os pecados sejam odiosos e suficientes para nos alijar da santidade de Deus, a não ser pela graça e misericórdia dele e pelo sacrifício de Cristo, existem pecados "mais ruins do que outros"; ou em circunstâncias "mais ruins do que outras". Se fôssemos diagramar os pecados, seria uma "plotagem" abaixo do eixo das abscissas - todos "abaixo de zero". Mas os pecados da liderança fazem “desencaminhar a muitos” e a muitos tropeçar na sua compreensão da lei de Deus, como nos diz Malaquias 2.7-8 - "Pois os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é o mensageiro do Senhor dos exércitos. Mas vós vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei..."

Agravantes e atenuantes:
Na Igreja Presbiteriana do Brasil, em seu Código de Disciplina, há uma consideração sobre os "agravantes " e "atenuantes", com relação ao mesmo pecado, nos casos de disciplina. O texto completo, que fala das circunstâncias atenuantes e agravantes, é o seguinte:

(Art. 12) –
São atenuantes:
a) pouca experiência religiosa; b) relativa ignorância das doutrinas evangélicas; c) influência do meio; d) bom comportamento anterior; e) assiduidade nos serviços divinos; f) colaboração nas atividades da Igreja; g) humildade; h) desejo manifesto de corrigir-se; i) ausência de más intenções; j) confissão voluntária.
§2º -
São agravantes:
a) experiência religiosa; b) relativo conhecimento das doutrinas evangélicas; c) boa influência do meio; d) maus precedentes; e) ausência aos cultos; f) arrogância e desobediência; g) não reconhecimento da falta. Art.14 - Os Concílios devem dar ciência aos culpados das penas impostas: a) Por faltas veladas, perante o tribunal ou em particular; b) Por faltas públicas, casos em que, além da ciência pessoal, dar-se-á conhecimento à Igreja.

Conclusão:
Assim, creio que ser bíblico, prudente e necessário, concluirmos pela existência de distinção ou gradação de pecados, sem esquecer que todos eles são odiosos, perante Deus, e que mesmo o menor deles nos afasta de sua santidade e nos faz merecedores da condenação eterna.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Ministério Pastoral Está Mais Estranho do que Costumava Ser: O Desafio do Pós-Modernismo

Colaboração: Dc. Adman Pinto - UPH IPSBC

O Dr. Albert Mohler é o presidente do Southern Baptist Theological Seminary, pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos; é pastor, professor, teólogo, autor e conferencista internacional, reconhecido pela revista Times como um dos principais líderes entre o povo evangélico norte-americano. É casado com Mary e tem dois filhos, Katie e Christopher.

Hoje em dia, uma preocupação comum parece surgir onde quer que os ministros se reúnam: o ministério pastoral está mais estranho do que costumava ser. Não que o ministério esteja mais difícil, mais cansativo ou mais exigente... está apenas diferente – e cada vez mais estranho.Esse sentimento de estranheza deve-se à propagação da cultura e da filosofia pós-modernista; provavelmente, o movimento cultural e intelectual mais importante do atual século XXI.

Que diferença o pós-modernismo tem causado? Para saber, basta olhar para a mídia moderna, para a cultura popular e para a forma como algumas pessoas arregalam os olhos, desconcertadas, quando falamos sobre a verdade, o sentido da vida e moralidade.

O pós-modernismo desenvolveu-se entre os acadêmicos e artistas, mas rapidamente se espalhou para toda a cultura. O pós-modernismo refere-se basicamente ao desaparecimento da modernidade e ao surgimento de um novo movimento cultural. A modernidade, cosmovisão dominante desde o Iluminismo, foi suplantada pelo pós-modernismo, que tanto amplia, como nega certos princípios e símbolos centrais da era moderna.É claro que muito da literatura a respeito do pós-modernismo é absurda e difícil de ser levada a sério. Quando a maioria dos personagens eminentes do pós-modernismo fala ou escreve, geralmente o resultado é uma linguagem inarticulada que se parece mais com um teste de vocabulário do que com um argumento bem fundamentado. No entanto, o pós-modernismo não deve ser deixado de lado como algo sem importância ou irrelevante. Essa não é uma questão de preocupação somente entre os acadêmicos e a vanguarda – esse novo movimento representa um desafio crucial à igreja cristã e ao pastor. Na verdade, o pós-modernismo pode não ser considerado como um movimento ou uma metodologia. Ele pode ser melhor descrito como uma disposição mental que se afasta das certezas da era moderna. Essa disposição mental é o cerne do desafio pós-moderno. O que delineia essa disposição mental pós-moderna? Esse novo movimento é útil para a nossa proclamação do evangelho? Ou a era pós-moderna traz um grande afastamento da verdade cristã? Uma olhada nos aspectos fundamentais do pós-modernismo pode ser útil.

A Desconstrução da Verdade

Ainda que a natureza da verdade venha sendo debatida ao longo dos séculos, o pós-modernismo tem transformado esse debate em seu carro-chefe. Embora a maioria dos argumentos ao longo da história tenha se focalizado nas afirmações antagônicas acerca da verdade, o pós-modernismo rejeita até mesmo a mera noção da verdade como algo imutável, universal, objetivo ou absoluto.

A tradição cristã compreende a verdade como algo estabelecido por Deus e revelado através da auto-revelação de Deus nas Escrituras. A verdade é eterna, imutável e universal. Nossa responsabilidade é regrar a nossa mente em conformidade com a verdade revelada de Deus e testemunhar essa verdade. Servimos a um salvador que identificou-se como sendo "o Caminho, a Verdade e a Vida" e exigiu fé nEle.

A ciência moderna, em si mesma um produto do Iluminismo, rejeitou a revelação de Deus como fonte da verdade e colocou o método científico em seu lugar. A modernidade tentou estabelecer a verdade baseada na precisão científica, através do processo do pensamento indutivo e da investigação. As outras disciplinas tentaram seguir o exemplo dos cientistas, estabelecendo uma verdade objetiva por meio do pensamento racional. Os modernistas estavam confiantes de que a sua abordagem produziria verdades universais e objetivas por intermédio da razão humana. Os pós-modernistas rejeitam tanto a abordagem dos cristãos quanto a dos modernistas no assunto da verdade.

Conforme a teoria pós-modernista, a verdade não é universal, não é objetiva ou absoluta e não pode ser determinada pelos métodos normalmente aceitos. Ao invés disso, os pós-modernistas argumentam que a verdade é construída socialmente, que ela é plural e inacessível à razão universal.Conforme afirma o filósofo pós-moderno Richard Rorty, a verdade é fabricada e não descoberta. De acordo com os desconstrucionistas, uma ramificação influente dos pós-modernistas, toda verdade é construída socialmente. Ou seja, os grupos sociais constroem a sua própria "verdade" para servir aos seus interesses.

De acordo com o argumento de Michel Foucault, um dos teóricos pós-modernistas mais importantes, toda reivindicação da verdade é construída para servir àqueles que estão no poder. Dessa forma, o papel do intelectual é desconstruir a reivindicação da verdade para libertar a sociedade.Aquilo que tem sido entendido e afirmado como sendo a verdade, declaram os pós-modernistas, nada mais é do que uma estrutura de pensamento conveniente, planejado para oprimir aqueles que não estão no poder. A verdade não é universal, porque cada cultura estabelece a sua própria verdade.

A verdade não é objetivamente real, pois toda verdade é meramente construída – como afirmou Rorty, a verdade é fabricada e não descoberta. Não é preciso ter muita imaginação para perceber que esse relativismo radical é um desafio direto ao evangelho cristão. A nossa reivindicação não é pregar uma verdade entre muitas. Não cremos que o evangelho cristão é uma verdade construída pela sociedade, mas sim a Verdade que liberta pecadores do pecado – e ela é objetiva, universal e historicamente verdadeira. E como o falecido Francis Schaeffer nos instruiu, a igreja cristã deve lutar pela verdade verdadeira.

A Morte da Metanarrativa

Visto que os pós-modernistas acreditam que toda verdade é construída socialmente, devemos resistir a qualquer apresentação de uma verdade absoluta, universal e estabelecida. Todas as vastas e maravilhosas asseverações acerca da verdade, do sentido da vida e da existência humana são rejeitadas como "metanarrativas" que reivindicam muito mais do que aquilo que podem oferecer.

Jean-François Lyotard, provavelmente o mais famoso pós-modernista europeu, definiu o pós-modernismo nestes termos: "Simplificando ao extremo, pós-modernismo é a incredulidade contra as metanarrativas".[i] Assim sendo, todos os grandiosos sistemas filosóficos estão mortos, e todas as asseverações culturais são limitadas; tudo o que resta são histórias aceitas como verdade por diferentes grupos e culturas. As afirmações sobre uma verdade universal – as metanarrativas – são opressivas, "totalitárias" e devem ser rejeitadas.

O problema nessa questão, é lógico, é que o cristianismo não faz sentido sem o evangelho – que é uma metanarrativa. Na verdade, o evangelho cristão é nada menos do que a Metanarrativa de todas as metanarrativas. Para o Cristianismo, abandonar a reivindicação de que o evangelho é uma verdade universal e objetivamente estabelecida é o mesmo que abandonar o ponto essencial da nossa fé. O cristianismo é a grandiosa metanarrativa da redenção.

Nossa história começa com a criação do Deus soberano e onipotente; continua por meio da queda da humanidade no pecado e da redenção dos pecadores por intermédio da obra substitutiva de Cristo na cruz; e promete um duplo destino eterno para toda a humanidade – os redimidos, para sempre com Deus, na glória; e os não-redimidos, no castigo eterno.

Essa é a mensagem que pregamos – e ela é uma metanarrativa gloriosa e transformadora de vidas.Não pregamos o evangelho como se fosse uma narrativa dentre muitas narrativas verdadeiras ou como a "nossa" narrativa, paralelamente às narrativas autênticas dos outros. Não podemos recuar, afirmando que a verdade bíblica é simplesmente para nós. A nossa reivindicação é que a Bíblia é a Palavra de Deus para todos. Isso é profundamente ofensivo para a cosmovisão pós-modernista, que ataca, com imperialismo e opressão, a todos quantos asseveram verdades universais.

O Falecimento do Texto

Se a metanarrativa está morta, logo, os maravilhosos textos por detrás das metanarrativas também estão mortos. O pós-modernismo afirma que é uma falácia atribuir significado a um texto, ou mesmo ao que o autor disse. O leitor é quem estabelece o significado, e nenhum controle limita o significado da leitura.

Jacques Derrida, líder da literatura desconstrucionista, descreve essa mudança nos termos "morte do autor" e "morte do texto". O significado fabricado, mas não descoberto, é criado pelo leitor no ato da leitura. O texto deve ser desconstruído para que possa libertar-se do autor e permanecer um texto vivo, como uma palavra livre. Esse novo método de hermenêutica explica muitos dos correntes debates na literatura, na política, no direito e na teologia. Todos os textos – quer sejam as Sagradas Escrituras, a Constituição dos Estados Unidos ou as obras de Mark Twain – são submetidos ao criticismo e à dissecação esotérica, tudo em nome da libertação.

Segundo os pós-modernistas, os textos revelam uma mensagem oculta, com intenções opressoras da parte do autor e, por essa razão, devem ser desconstruídos. Essa não é uma mera questão de importância acadêmica. É o argumento por detrás das muitas interpretações contemporâneas da Constituição, feitas pelos juízes; das apresentações dos assuntos na mídia e da fragmentação da erudição bíblica moderna.

O surgimento de escolas de interpretações voltadas para grupos de interesse como o das feministas, dos liberalistas, dos homossexuais e vários outros é a questão central desse princípio pós-moderno.Conseqüentemente, a Bíblia é submetida à uma reinterpretação radical, geralmente com pouca ou nenhuma consideração pelo significado óbvio do texto ou pela intenção evidente do autor humano. Os textos que não agradam a mente pós-modernista são rejeitados como opressivos, patriarcais, heterossexuais, homofóbicos ou deturpados por outros preconceitos ideológicos ou políticos.

A autoridade do texto é negada em nome da libertação, e as interpretações mais fantasiosas e ridículas são celebradas como "convincentes" e até mesmo "autênticas". É claro que a noção de "morte do autor" assume um significado completamente novo quando aplicado às Escrituras, pois reivindicamos que a Bíblia não é meramente palavras de homens, mas sim a Palavra de Deus.

A insistência pós-modernista na morte do autor é inerentemente ateísta e anti-sobrenatural. A reivindicação de uma revelação divina é descartada como apenas mais uma das exteriorizações do poder opressivo. Quando a verdade é negada, o que prevalece é a terapia. A questão crucial muda de "O que é a verdade?" para "O que faz com que eu me sinta bem?".

Essa tendência cultural tem se desenvolvido ao longo do século, mas agora tem alcançado proporções épicas.A cultura que confrontamos está quase que completamente submissa ao que Philip Reiff chamou de "triunfo da terapêutica". Num mundo pós-moderno, todas as questões acabam girando em torno do eu. Portanto, tudo o que resta como alvo de muitas abordagens educacionais e teológicas é elevar a auto-estima. Categorias de palavras como "pecado" são rejeitadas como opressivas e prejudiciais à auto-estima.

As abordagens terapêuticas são dominantes numa cultura formada de indivíduos que não têm sequer a certeza de que a verdade existe – mas que estão convictos de que nossa auto-estima deve permanecer intacta. O certo e o errado são descartados como lembranças obsoletas de um passado opressivo. Em nome de nossa própria "autenticidade", rejeitaremos todos os padrões morais inconvenientes e substituiremos a preocupação com o certo e o errado pela afirmação dos nossos direitos.

A Teologia é igualmente reduzida à terapia. Sistemas teológicos inteiros, bem como suas abordagens, são construídas de modo a reduzir o seu alvo a nada mais do que à elevação da auto-estima de indivíduos e grupos especiais. Essas teologias do "sentir-se bem" dispensam a "negatividade" dos textos bíblicos ofensivos ou até mesmo a Bíblia inteira.

Categorias de palavras como "perdição" e julgamento ficam de fora. No lugar delas estão as vagas noções sobre aceitação sem arrependimento e completude sem redenção. Podemos não saber (ou nos importar) se somos salvos ou perdidos, mas certamente nos sentimos bem melhor acerca de nós mesmos.

O Declínio da Autoridade

Visto que a cultura pós-moderna está comprometida com uma visão radical de libertação, todas as autoridades devem ser subvertidas. Dentre todas as autoridades destronadas estão: textos, autores, tradições, metanarrativas, a Bíblia, Deus e todos os governos no céu e na terra.

Exceto, é claro, a autoridade dos teóricos pós-modernistas e dos personagens eminentes da cultura, que exercem o seu poder em nome dos povos oprimidos em toda parte.Segundo os pós-modernistas, aqueles que estão em posição de autoridade utilizam seu poder para continuarem no poder e servirem aos seus próprios interesses. Suas leis, tradições, textos e "verdade" nada mais são do que aquilo que é projetado para mantê-los no poder.Assim, a autoridade dos líderes governamentais passa a ser corroída, da mesma forma como a autoridade dos professores, dos líderes comunitários, dos pais e dos pastores.

Enfim, a autoridade de Deus é rejeitada como sendo totalitária e autocrática. E como os pastores são representantes dessa deidade autocrática, devemos resistir à autoridade deles de igual modo. Doutrinas, tradições, credos e confissões de fé – tudo deve ser rejeitado e taxado como algo que limita a auto-expressão e representa &a autoridade opressiva.

Os pregadores são tolerados, contanto que apóiem as mensagens terapêuticas que elevam a auto-estima; e resistidos, sempre que introduzem reivindicações sobre a autoridade divina ou à verdade universal em seus sermões.

A Destituição da Moralidade

Ivan, na novela de Fyodor Dostoyevsky, Os Irmãos Karamasov, estava certo; se Deus está morto, tudo é permissível. O Deus permitido no pós-modernismo não é o Deus da Bíblia, mas sim uma vaga idéia de espiritualidade. Não há tábuas da lei, nem os Dez Mandamentos... não há regras. A moralidade, juntamente com outros alicerces culturais, é descartada como opressiva e totalitária. Um relativismo moral abrangente é a marca da cultura pós-moderna. Não estou dizendo que os pós-modernistas relutam em utilizar uma linguagem moral. Ao contrário, a cultura pós-modernista está recheada de discurso moral.A homossexualidade, por exemplo, é abertamente defendida e aceita.& O avanço dos estudos sobre gays e lésbicas nas universidades, o aparecimento do poder político homossexual e as imagens eróticas homossexuais, agora comuns na cultura popular, marcam essa dramática reviravolta moral. A homossexualidade não é mais considerada um pecado. A homofobia é criticada como se fosse pecado, e as reivindicações por tolerância aos "estilos de vida alternativos" agora se transformaram em reivindicações públicas para a celebração de& todos os estilos de vida como moralmente iguais.Michael Jones descreveu a modernidade como "promiscuidade sexual racionalizada", e a pós-modernidade é a sua extensão lógica. Michael Foucault, que argumentou que toda moralidade sexual é um abuso de poder, clamou para que o pós-modernismo celebrasse a "perversidade polimorfa". Ele viveu e morreu dedicando-se a esse estilo de vida, e sua profecia tem se cumprido nesta década.

O Ministério Cristão numa Era Pós-moderna

O pós-modernismo representa o único desafio a ser encarado pelo Cristianismo nesta geração. Walter Truett Anderson descreveu a realidade pós-moderna em seu engenhoso livro Reality Isn't What it Used to Be (A Realidade não é Como Costumava Ser).[ii]

Esta é a reivindicação central do pós-modernismo: a realidade não é o que costumava ser, e jamais o será novamente. Agora, a humanidade é maior de idade; faremos nossa própria verdade; definiremos nossa própria realidade e nos empenharemos pela nossa auto-estima.

Nessa cultura, o ministério pastoral é mais estranho do que costumava ser. Atualmente, os conceitos pós-modernos de verdade reinam na era pós-moderna, e até mesmo nos bancos das igrejas pós-modernas. Pesquisas indicam que a maioria crescente daqueles que professam ser cristãos rejeitam até mesmo a noção de uma verdade absoluta.

A "morte do texto" fica evidente pela resistência à pregação bíblica em muitas igrejas. Os ouvidos pós-modernos não querem mais ouvir o "assim diz o Senhor" do texto bíblico. Uma vez que a verdade é fabricada e não descoberta, podemos projetar a nossa própria religião ou espiritualidade pessoal e omitir doutrinas e mandamentos morais inconvenientes. O pós-modernismo promete que o indivíduo pode construir uma estrutura pessoal de espiritualidade, livre de interferências ou autorização externas. Sob o lema: "Não existe outra verdade como a minha verdade", as crianças do pós-modernismo estabelecerão seu próprio sistema doutrinal e desafiarão a correção.Gene Veith, deão da Faculdade Ciências Humanas, na universidade de Concórdia, contou-nos sobre um jovem que afirmava ser cristão, professava crer em Cristo e amava a Bíblia, mas também cria na reencarnação. Seu pastor confrontou sua crença na reencarnação dirigindo o jovem para Hebreus& 9.27.

O texto foi lido: "E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo". O jovem voltou o olhar para o seu pastor e respondeu: "Bem, essa é a sua interpretação".[iii]

Em nome do pós-modernismo, qualquer coisa pode ser explicada como uma questão de interpretação. O conceito dos jogos de linguagem wittgenstein declara que cada sentença deve ser avaliada com cuidado. Um conceito tão claro e óbvio como a primeira linha do Credo Apostólico: "Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra" deve ser analisado nos termos das intenções do falante. Essa confissão assevera a crença de que Deus é, de fato, o criador do céu e da terra ou essa afirmação é um mero sentimento pessoal?

A estranheza do ministério pastoral na era pós-moderna pode ser vista em estudos bíblicos que não estudam a Bíblia, mas são exercícios psicológicos de auto-conhecimento, com o tipo de moralidade self-service, praticada por muitos membros de igreja; e a crescente aceitação de outras religiões como caminhos válidos para a salvação.

A cultura moderna é revoltada contra a verdade, e o pós-modernismo não é nada senão a forma mais recente dessa revolta. Nesses tempos estranhos, o ministério pastoral clama por convicções não diluídas e por uma apologética fiel. As tentações para comprometer a mensagem são grandes, e a oposição que se levanta contra todo aquele que tem a pretensão de pregar a verdade absoluta e eterna é severa. Entretanto, essa é a tarefa da igreja cristã.Precisamos compreender o pós-modernismo, ler os escritos de seus teóricos e aprender sua linguagem. Isso é muito mais um desafio missionário do que um exercício intelectual.

Não podemos nos dirigir a uma cultura pós-moderna a menos que entendamos sua mente.Devido a sua própria natureza, o pós-modernismo está condenado à auto-destruição. Seus princípios centrais não podem ser aplicados de maneira consistente. (Apenas peça para que um acadêmico pós-moderno aceite "a morte do texto" nas cláusulas de seu contrato). A igreja deve continuar a ser o povo da verdade, apegando-se às reivindicações de Cristo, e batalhando pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. O pós-modernismo rejeita qualquer menção a uma verdade que foi entregue "uma vez por todas", mas a igreja não pode comprometer o seu testemunho.

O ministério pastoral está mais estranho do que costumava ser. No entanto, esta é uma era de grandes oportunidades para evangelização, pois à medida que os deuses do pós-modernismo morrem, a igreja testemunha a Palavra da Vida. Em meio à uma era pós-moderna, nossa tarefa é testemunhar a Verdade e recolher os cacos à medida que a cultura se despedaça.

[i] Jean-Francois Lyotard, The Postmodern Condition: A report on Knowledge, trans. Geoff Bennington and Brian Massumi, "Theory and History of Literature," vol. 10. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1984. p. 24.

[ii] Walter Truett Anderson, Reality Isn't What it Used to Be. San Francisco: Harper and Row, 1990.

[iii] Gene Veith, "Catechesis, Preaching, and Vocation," in Here We Stand, ed. James Boice and Ben Sasse. Grand Rapids: Baker Book House, 1996. pp. 82-83.

________________________________Traduzido por: Waléria CoicevRevisão: Tiago SantosCopyright © R. Albert Mohler Jr.Traduzido do original em inglês: Ministry is stranger than it used to be: The Chalange of Postmodernism (http://www.albertmohler.com/).