A UPH (União presbiteriana de homens) tem como objetivo oferecer aos homens oportunidades de companheirismo e confraternização. A UPH orienta os homens da Igreja a cultivarem a sua vida espiritual ouvindo preletores, estudando as Escrituras e orando. Aprendem também como relacionar-se melhor com a esposa e os filhos, como lidar com tentações e aumentar os vínculos familiares. São oferecidos cursos de treinamento de liderança, café ou jantar mensal, palestras sobre temas variados, além do auxilio a homens da Igreja que estão procurando emprego ou passando por dificuldades.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Sobre a Crise Financeira (3 de 3)




Solano Portela, do blog http://tempora-mores.blogspot.com

Diante do cenário e das questões que foram expostas nos dois últimos posts, concluímos:

  1. Mais controle governamental, ou volta às responsabilidades básicas do governo?Vivemos em um mundo caído em pecado. A ganância, a cobiça, o amor ao dinheiro sempre se constituirão em fortes tentações. Sempre darão oportunidade dos ricos e poderosos oprimirem os mais fracos. Por isso, em paralelo às garantias de liberdade e de livre iniciativa, o governo deve também proteger os cidadãos comuns da injustiça e da desonestidade. Nisso, nada mais fará do que voltar às suas responsabilidades básicas, recebidas de Deus. Mas isso não significa uma carta branca ao intervencionismo de toda sorte. Não representa uma ressurreição do socialismo moribundo.
  2. A esfera econômica também pode ser palco de violência e de injustiça.Por princípio, e por acreditar que esse é o projeto encontrado na Bíblia, sou avesso à grande maioria dos controles governamentais que se aceitam com naturalidade nos dias atuais. O propósito do Governo é dar garantia à segurança dos cidadãos para que eles possam desenvolver, em condições de igualdade e justiça, suas desigualdades e seus potenciais com o máximo de respeito ao próximo e em obediência à autoridade que os garante (Romanos 13.1-7). Mas essa tarefa requer, por vezes, a colocação de controles na sociedade – e na esfera econômica, exatamente para proteger os inocentes. Por exemplo, nenhum defensor de um papel reduzido ao governo, deveria ser contra a existência de sinais de trânsito. Mas isso não é extrapolar as funções do governo? Não! Ao ordenar o tráfego, ele protege as pessoas umas das outras; deve ter condições de punir os avançadores de sinais e de reconhecer os que os respeitam.
  3. Proteção aos inocentes e a punição dos maus.Assim, no mercado financeiro, algumas diretrizes que limitem a exposição indevida aos créditos de risco, estarão alinhadas exatamente com a proteção dos inocentes. Por outro lado, o resgate dos maus, com os bons pagando a conta, é uma inversão de valores e não pode se entrar nessa situação apressadamente, a não ser que uma profunda análise revele a medida necessária para a proteção dos que praticam o bem. Cabe ainda, ao governo, prevenir o crime, identificar e punir os malfeitores. Os governantes, como ministros de Deus, devem valorizar (e não sufocar em impostos) aqueles que “trabalhando sossegadamente” procuram ganhar o seu pão (2 Tessalonicenses 3.12). Em paralelo não podem deixar impunes aqueles que se aproveitam de situações, ou do poder que detêm, para enriquecimento pessoal ilícito, muitas vezes sugando dos que pouco têm.
  4. O anseio por estabilidade. No início desses ensaios, dissemos que instabilidade era a palavra da vez (com todas as suas derivativas: volatilidade, desconfiança, falta de credibilidade, insegurança, etc.). Nesse sentido, todo esse turbilhão financeiro vem demonstrar a bênção que é a estabilidade, tão rapidamente abalada. No Brasil, chegamos a quase nos acostumar com uma forma de vida mais economicamente estável, em função da solidez da moeda e de uma situação econômica favorável ao crescimento, experimentada nos últimos anos. É verdade que o aperto financeiro em nosso bolso nunca foi aliviado, mas passamos a planejar com mais tranqüilidade e, ingenuamente, passamos a achar que a estabilidade era permanente. Chegamos a arquivar os pacotes econômicos, como coisas do passado. É fácil enganarmo-nos a nós mesmos, mas uma simples olhada na história demonstrará como instabilidade é a norma nesse mundo. A capa da revista TIME, ao lado, não diz respeito a esta crise, mas à de 1987 - quase tão grave quanto a atual. Nossa memória é curta.
  5. O choque de instabilidade. Na atual conjuntura, já é possível antever: desaquecimento do mercado, menos vendas, contenção de despesas nas empresas, recessão, desemprego, incerteza em nosso dia-a-dia, instabilidade. De uma certa forma, nos sentimos espoliados em uma conquista que julgávamos alcançada. Com freqüência as pessoas se consideram aventureiras e corajosas, mas por que será que a estabilidade é algo tão almejado e perseguido? Por que as pessoas anseiam por uma repetibilidade das circunstâncias, pela condição de poderem planejar?
  6. Estabilidade é característica divina. Estabilidade é uma característica divina, por isso ela é uma bênção. Deus é estável. O pecado é fator de instabilidade. Deus é previsível. Satanás é enganador e astuto. A criação geme, sob o domínio do pecado. Deus instala a ordem no meio do caos. A mensagem de Deus é construtiva, no meio da turbulência. O plano de salvação é seqüencial, lógico e progressivo. Da morte espiritual, pela justificação procedente de Jesus Cristo, passamos à vida e, em santificação, aguardamos a glorificação e comunhão eterna com o Pai. A Palavra de Deus ensina estabilidade de vida, a estabilidade da família, a estabilidade da sua Igreja. Estabilidade podemos esperar de Deus, e só dele: o mais está fadado à desilusão.
  7. Vivendo estavelmente em um mundo instável. Deus prepara os seus servos para viverem estavelmente em um mundo instável. Jesus intercedeu não para que fôssemos tirados do mundo, mesmo com suas instabilidades e perigos, mas para que pudéssemos ser livres do mal. Na realidade, somos comissionados com a mensagem da estabilidade do evangelho, como embaixadores de um país celestial, no qual não existem pacotes, e os tesouros não são corrompidos pela inflação, especulação ou mal-versação; onde não existem crises, nem turbilhão financeiro. Serenidade e confiança em Deus é o remédio para os sobressaltos desta vida. A estabilidade que o mundo e os governantes nos oferecem, é passageira, é enganosa, é traiçoeira. A paz que recebemos de Jesus, difere da obtida do mundo: ela tem o efeito de serenar os nossos corações.
  8. Enfrentando quaisquer crises. Como enfrentar esta e outras crises? Com a paz de Deus em nossos corações, com a confiança de que ele reina e está em controle de tudo e de todos, com a certeza de que a vitória final é dele e de seus servos. O que pedir a Deus, para os anos à frente? Devemos estar orando para que ele possa atuar em nosso país, derramando a sua graça comum, para que a estabilidade, tão característica de sua pessoa, seja parte de nossa experiência e peregrinação, por onde ele nos guiar. Nessa crise, acima de tudo, além de contabilizarmos as perdas (agora, ou no futuro) façamos um balanço da nossa alma, dos nossos objetivos e de nossas motivações. Aprendamos com as circunstâncias, pois o Deus da providência nos ensina através das situações em que ele nos coloca."Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus". Filipenses 4.6,7.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Sobre a Crise Financeira (2 de 3)

Uma visão cristã do turbilhão financeiro de 2008

Por Solano Portela (do blog tempora-mores.blogspot.com)

Desta vez queremos examinar o que a Bíblia pode nos ensinar sobre essa crise financeira.

1. A Atitude dos que não temem a Deus:

Em um filme famoso, exatamente sobre o mercado de capitais – “Wall Street” (1987, com Michael Douglas e Charlie Sheen) – o personagem de Douglas, Gekko, dá a seguinte instrução: “a ganância é uma coisa boa, é algo certo, e funciona” (“greed is good, greed is right, greed works”)! No dia 17 de outubro de 2008 – no auge da crise – o conhecido bilionário, investidor e também filântropo, Warren Buffet, em um artigo publicado no New York Times (http://www.cnbc.com/id/27231171/) escreveu o seguinte conselho: “Tenha medo quando os outros forem gananciosos e seja ganancioso quando os outros tiverem medo”. Ambos conselhos são contrários à visão de mundo e vida ensinada por Deus. A questão da ganância está na raiz da crise financeira de 2008! Temos aqui um exemplo vivo da postura de inversão de valores e de arrogância, condenada por Isaías (5.20 e 21): “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridão luz e da luz, escuridão; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito”!

2. A forma de vida que agrada a Deus:

A Bíblia tem vários trechos relevantes ao nosso entendimento da situação; muitos que alertam contra a ganância e a cobiça. Um desses principais trechos pertinentes é 1 Timóteo 6.6-11. Nele o experiente e consagrado apóstolo Paulo, escrevendo ao jovem Timóteo, está ensinando pelo menos seis coisas;

(1) Qual o Lucro REAL? O que é que realmente conta em nossas vidas? (v. 6 – “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento”): é a devoção a Deus (piedade); é o contentamento nas coisas de Deus. Quando colocamos as questões materiais como prioritárias em nossas vidas, estamos desviando o foco da nossa existência, a razão do nosso ser. Estamos no caminho da decepção, da amargura, da tristeza, pois a nossa confiança estará em coisas que não têm lastro real. Deus é alicerce seguro, em qualquer situação.

(2) Somos peregrinos nessa Terra (v. 7 – “Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele”): é verdade que Deus nos concede bênçãos materiais, mas nada levamos deste mundo. Quando temos essa percepção, nos tornamos menos apegados às coisas materiais; compreendemos a razão do lucro real que ele vem falando.

(3) Devemos viver com frugalidade (v. 8 – “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”): Desejemos as coisas básicas da vida e não seremos frustrados em nossas expectativas; essas nos são prometidas por Deus, como fruto de seu amor e benevolência (Mateus 6.28-32), pois ele sabe que precisamos delas. Mas as coisas do chamado “mercado de luxo”, são, realmente, necessárias? Onde está a base de nossa alegria? Nas coisas materiais, nos ganhos financeiros para comprarmos mais coisas?

(4) A cobiça é um pecado muito perigoso (v. 9 – “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição”): O desejo da riqueza leva a tentações; essas tentações são ciladas, armadilhas, aprisionam e tiram a liberdade. A cobiça é campo gerador de novos desejos insanos (concupiscências insensatas), que são maus em si mesmos (perniciosos); tudo isso, termina por afogar as pessoas na ruína e na perdição.

(5) Cuidado com o amor do dinheiro (v. 10 – “Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores”): Esse amor é raiz de todos os males. Note que a raiz não é o dinheiro em si – um meio de interação social e transação de ativos, mas o amor, o apego ao dinheiro. A cobiça leva ao desvio da fé, pois a confiança passa a ser exercitada no dinheiro, no poder, em vez de em Deus. O resultado dessa inversão, desse apego, é muito sofrimento e tormento para aqueles que caem nessa armadilha.

(6) Devemos, portanto, fugir de tudo isso (v. 11 – “Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”): Nosso dever é seguir a justiça, as coisas certas, apropriadas. Isso implica na existência de padrões, de absolutos, da distinção entre verdade e mentira. Ele repete que devemos seguir, em adição, a devoção a Deus (piedade). O outro alvo é a fé (a confiança em Deus, somente), seguido do amor e da constância. O servo de Deus firma-se na constância e estabilidade de Deus, portanto, não deve oscilar entre duas posições. Não deve se sobressaltar com as circunstâncias; não deve assustar aos seus. Por último, temos a mansidão como alvo. Não devemos nos exasperar, ou nos irritar com as circunstâncias. Em Deus encontramos a fonte de nossa mansidão.

3. Outros alertas contra cobiça:

Existem muitos outros trechos que alertam contra a cobiça, contra a avareza, contra o apego ao dinheiro. Todos esses são pertinentes alertas aos dias que atravessamos, por exemplo:

Colossenses 3.5 Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria.

Lucas 12.15 Então, lhes recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.

Salmo 10.3 Pois o perverso se gloria da cobiça de sua alma, o avarento maldiz o SENHOR e blasfema contra ele.

4. Outros ensinamentos, na Bíblia, sobre questões econômicas:

Mas é verdade, também, que o ensino da Bíblia nas questões econômicas é muito mais amplo do que isso. Numa era onde temos a propensão a concentrar os nossos olhos nos que nos cercam, em vez de em nossas atitudes, temos, por exemplo, um alerta contra inveja da prosperidade alheia, indicando que essa atitude nos leva perto da queda:

Salmo 73.2-3 Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos. Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos.

Temos a reafirmação do direito de propriedade, e o oitavo mandamento, “não furtarás” (Êxodo 20.15) é o fundamento disso.

Temos até indicação de que o ato de investir e multiplicar o capital não é errado em si, em duas parábolas relatadas em Mateus 25.14-30 e Lucas 19.11-27 (sabemos que o propósito das parábolas era o de ensinar que Deus nos colocou nesse mundo de incertezas para fazer a obra dele, do Seu Reino, mas ele ensina isso mostrando a propriedade da interação com as atividades financeiras e comerciais do dia-a-dia).

Nessas parábolas é mencionada até a propriedade de colocar o dinheiro na mão de bancos e de banqueiros (Mateus 25.27 e Lucas 19.23: “cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu”; e “por que não pusestes o meu dinheiro no banco? E então, na minha vinda, o receberia com juros”).

Entretanto, é interessante observar, que colocar no banco era o pior tipo de investimento – o melhor era fazer o capital trabalhar produtivamente.A verdade é que Deus construiu, igualmente, alguns princípios inexoráveis de causa e efeito, entrelaçando a moralidade e ética com economia.

Quando esses princípios são quebrados, o pedágio é cobrado com intensidade avassaladora. Em Deuteronômio 28.15 lemos: “Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR, teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te ordeno, então, virão todas estas maldições sobre ti e te alcançarão”.

E, mais adiante, vejam as conseqüências (28.43-44): “O estrangeiro que está no meio de ti se elevará mais e mais, e tu mais e mais descerás. 44 Ele te emprestará a ti, porém tu não lhe emprestarás a ele; ele será por cabeça, e tu serás por cauda”. Adam Smith em seu tratado “A Riqueza das Nações (1776), ao falar da “mão invisível do mercado”, que pune os excessos e quebra os gananciosos – como estamos testemunhando no presente – reflete exatamente que existem princípios éticos e lógicos na esfera da economia. Esse é também o ensino de Deus.

5. O ponto no qual devemos nos concentrar:

Mas esta é questão principal, nessa crise e nessa área: É suficiente apontar a crise como resultado da cobiça e da especulação dos outros? É correto atribuir essa situação, assepticamente à estrutura econômica do mundo ocidental, na ilusão de que um outro sistema econômico a impediria? Será que não podemos, apenas, segregar e atribuir a culpa à suposta maldade inerente ao sistema financeiro, ou aos bancos e banqueiros?Estaremos errando o alvo se não nos convencermos que o problema está inerentemente no ser humano.

A cobiça está no coração da natureza humana e devemos pedir a Deus que nos livre dela. A cobiça e a ganância são, certamente a raiz da crise que atravessamos, mas visualizemos ela nas pessoas, e não nos desviemos pensando que são as estruturas impessoais que as abrigam.

Pessoas que emulam o Gekko, ou que seguem os conselhos de Buffet.A cobiça aparece em toda a sua forma monstruosa quando essas pessoas procuram ganhos irreais, à custa de outras; que se abrigam e se fortalecem com seus ganhos ilegítimos. Devemos, portanto, “fugir dessas coisas”, como Paulo alerta a Timóteo, seguir “a justiça,a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”.

terça-feira, 3 de março de 2009

Sobre a Crise Financeira (1 de 3)

por Solano Portela (do blog tempora-mores.blogspot.com)
Como não sou profissional de investimentos de risco, incluo-me na categoria do leigo que tenta entender o furacão financeiro que veio, não tão inesperadamente assim, sobre todo o mundo. Sinais de alerta já existiam há vários meses. Os sismólogos econômicos chamaram atenção para o tsunami configurado no colapso do bolsão imobiliário dos Estados Unidos, há mais de um ano; e os trovadores do caos já cantavam odes de desespero, ecoando os prognósticos pessimistas dos financistas, mesmo antes das bolsas despencarem violentamente neste setembro negro e neste outubro vermelho.Mas a realidade é que ninguém, mas ninguém mesmo, aquilatou o tamanho da crise financeira que tomou de assalto as manchetes e os noticiários dos últimos dias; crise que assaltou, literalmente, o bolso de milhões de investidores e que vai levando de roldão corporações imensas à falência. Ninguém fez qualquer previsão parecida com as conseqüências conjunturais, que poderão atingir pessoas, comuns, que nunca passaram perto de um mercado de ações; aquelas pessoas que quando ouvem alguém dizer, “a bolsa caiu”, olham ao lado procurando ajudar a mulher que a derrubou no chão.É possível que todos nós sejamos atingidos, de uma maneira ou de outra, e não devemos nos enganar: essa crise de 2008 pode perturbar nossa vida com muito mais intensidade do que estamos imaginando agora. E não sabemos ainda o fim da história. Em 13 de outubro de 2008, após governos europeus se comprometerem a jogar mais de um trilhão de dólares nas instituições financeiras, houve uma ascensão momentânea nas bolsas e um tênue suspiro de otimismo; mas logo nos dias seguintes as quedas catastróficas vieram a se repetir. Tudo isso atesta a instabilidade inerente a todo o sistema. Instabilidade é, realmente, a palavra da vez e o comportamento dos mercados e das instituições parecendo uma “montanha russa”, ou a queda em um poço que não parece ter fundo, não resulta em nenhuma segurança às empresas e às pessoas.Como entender o que está acontecendo? Será que isso tem algo, mesmo, a ver comigo? Será que eu não posso simplesmente fazer coro com a maioria: xingar os bancos, as financeiras e os banqueiros, ou os Estados Unidos – como culpados por toda essa desorganização, como fruto de sua ganância desvairada? Será que eu devo clamar por mais regulamentação governamental? Devo “vender” mais um pedaço de minha escassa liberdade ao estado, para que ele decida o que é melhor para minha vida? Será que a Bíblia e os ensinamentos divinos têm algo a dizer, ou a esclarecer sobre esta Crise; ou a me auxiliar no entendimento?

ENTENDENDO A CRISE

1. A Bolha Imobiliária: A essas alturas todos sabem que uma das grandes causas da crise foi o bolsão de negócios imobiliários realizados nos Estados Unidos nos últimos anos. Não estamos falando de grandes cadeias de shopping-centers sendo construídos por empreendedores que merecem cadeia, nem de milhares de prédios inteligentes, construídos por burros de alto-luxo. Mas sim de centenas de milhares de casas construídas e vendidas com um mínimo de critério de crédito (muitas vezes, sem critério), para ávidos compradores pulverizados em todo o território norte-americano. Créditos com a garantia do próprio imóvel, que entravam a preços inflados pelo próprio aquecimento do mercado, mas que nada garantem quando ninguém compra mais nada e os preços despencam.

2. O Abuso dos Créditos de Risco: Nesse ritmo, casas foram vendidas a compradores que, aliciados pelas facilidades e com os olhos vidrados no status, se comprometiam com valores significativamente acima da sua capacidade de pagamento. Pior que isso, pessoas que moravam em casas quase pagas, sendo bombardeadas diariamente e caindo na esparrela de refinanciarem seus imóveis, colocaram no bolso “cash” a ser gasto em Hummers, em relógios e roupas de griffe, em itens totalmente supérfluos às necessidades básicas da vida. Passavam, assim, a dever por suas residências quantia bem maior do que o valor real delas.

3. A alavancagem das instituições Financeiras: Os Bancos financiavam em ritmo crescente, comprometendo-se absurdamente acima do seu patrimônio. O Lehman Brothers, famoso banco que quebrou – suas ações despencaram 98% em valor de um dia para o outro, estava com o patrimônio comprometido – alavancado – em 35 para 1 (emprestou 35 dólares, para cada dólar do seu patrimônio). As carteiras de recebíveis desses empréstimos foram sendo vendidas de banco para banco, cada qual com seus ganhos, ágios e deságios – distanciando-se cada vez mais dos devedores originais. A criatividade dos bancos para aliciar e emprestar foi só superada pela irresponsabilidade e ganância dos tomadores de empréstimos – satisfeitos por acharem quem atendesse os seus anseios. Essa enorme carteira de dívidas de quem não pode pagar constituem o que é chamado de créditos “sub-primes”, e esses papéis corriam de mão em mão no mundo das finanças. Papéis pelos quais se pagavam somas substanciais, mas que no mundo real nada mais valiam. Uma pergunta que não quer calar: Por que bancos emprestam, ou negociam com quem não pode pagar? Resposta – porque essas negociações dão a impressão (e provocam registros) de crescimento do negócio! Os executivos de topo recebem polpudos bônus com o incremento dos negócios! Ganância passa a ser a motivação (e não a saúde financeira, ou perenidade da instituição). Quando a inadimplência começa a aumentar (nesses últimos meses, exponencialmente), o falso crescimento fica evidente, há um brusco retorno à realidade, instala-se a crise!

4. O excesso de dólares no mercado: Por mais atacado e combalido, o dólar continua sendo a moeda internacional. Acredito que um dos grandes incentivadores dos negócios arriscados dos bancos, foi a abundância de dólares nessas instituições, provenientes dos poucos, mas importantes, detentores do negócio de petróleo. Em 1973 o barril de petróleo custava de 6 dólares. Em poucos meses, passou a 14 dólares. O que aconteceu? Ficou mais caro de ser extraído? Foi feito um fundo de reserva para pesquisa e desenvolvimento de veículos ecologicamente corretos e mais eficientes? Não – apenas cartelizou-se o mercado com a fundação da OPEP – Organização dos países produtores de petróleo. Daí para frente, passando a dar as cartas, o mundo viu (e pagou) o preço do barril flutuando entre 15 e 25 dólares, atingindo um pico de 38, em 1981, retroagindo um pouco, mas voltando a ascender gradativamente em 2003. Em 2007 o barril estava a 60 dólares. Em 2008 – o mesmo barril, ou seja, com o mesmo conteúdo (e com os mesmos custos anteriores de produção) atingia 140 dólares! Inflação mundial? Não, exploração de quem detém um mercado cativo; pura e simples ganância! E para onde foi todo esse excesso de dólares, confiscados de cada proprietário de veículo ao redor do mundo? Para melhoria dos povos dos países produtores? Não! A miséria da Venezuela e o despotismo dos países Árabes estão aí de prova que não foi para “distribuição de renda”. Além de alimentar o egocentrismo e tirania de alguns e de ajudar a armar a Venezuela, esses dólares foram para os Bancos. Lá, eles têm que ser remunerados; têm que ser aplicados. Em que? Em qualquer coisa – dêem-me tomadores de dinheiro emprestado, quer eles precisem quer não, pois o dinheiro não pode ficar parado. Financiem-se construções; criem-se mercados; incentivem-se os devedores – a festa começou! Em 16 de outubro de 2008, no meio da corrente crise, depois do estouro da bolha, o barril chegou a 69,85 dólares – metade do preço de alguns meses atrás!

5. Ações acima do valor patrimonial das empresas – Capital fácil flui também para o mercado de ações. “Descola-se” o papel da realidade da empresa. Como o negócio é comprar e vender – e em um mercado de capital frouxo, mais comprar do que vender, os preços começam sua ascensão. Dinheiro é desviado de empresas, onde deveria estar financiando a capacidade produtiva, para especular com a bolsa e outras aplicações de risco. É mais fácil e mais rápido ganhar dinheiro lá, do que vendendo produtos, cuidando de problemas de qualidade, etc. A empresa passa a ser apenas mais uma levantadora de financiamentos, junto à rede bancária e às linhas oficiais de créditos subsidiados – geralmente destinados à exportação, recursos que foram redirecionados ao mercado especulativo. Quando a bolha estoura, as ações sofrem um choque de realidade, voltam inicialmente ao valor patrimonial – mas como não existem compradores, e todos querem vender, pois precisam de dinheiro, elas continuam baixando, sem limites mínimos. Assim, o dinheiro vira pó; as perdas não podem ser repostas; os financiamentos obtidos para especular permanecem pendentes, devendo ser pagos! O resultado são aqueles homenzinhos vestidos de laranja gritando ferozmente uns para os outros, berrando aos celulares, suando em frente aos computadores; olhando hipnotizados àquelas linhas de informações projetadas em telões, criptografadas aos demais mortais, mas que trazem notícias mortais a empresas e pessoas.

6. O estouro da boiada – Só na Espanha existem os loucos que adoram bois raivosos e sem controle chifrando o povo pelas ruas, mas no mundo da economia globalizada, o estouro da boiada é cruel e faz vitimas fatais. No clima de salve-se quem puder, some a confiança. Os Bancos retêm o capital que restou e não emprestam mais aos outros bancos, nem às empresas viciadas em financiamento fácil. Dobram-se as garantias. As empresas têm que produzir duas vezes mais, para gerar bens, que vão gerar papeis, que serão trocados, em financiamentos, por metade ou um terço do valor desses (o restante fica como garantia, pois ninguém sabe se os compradores vão pagar). O dinheiro some do mercado. Não há financiamento da produção e desaparecem os compradores. Resultado: corte de funcionários; inadimplência generalizada – espalha-se a crise a pessoas comuns que nem foram responsáveis por sua geração. O que os bancos, nesse estouro da boiada, estão fazendo com o dinheiro que sobrou? Comprando dólares – letras do tesouro norte-americano (tudo gira, gira e termina nos Estados Unidos). Esses papéis não rendem praticamente nada, mas têm garantia do governo norte-americano e sólida liquidez. Resultado: sobe o dólar; valoriza-se a moeda norte americana; tudo fica mais caro, no mundo.

A CRISE NO BRASIL

Nossas autoridades maiores, empenhadas na tarefa cansativa de providenciar pão e circo ao povo, tentaram cobrir o sol com uma peneira, indicando que mal sentiríamos o peso da crise, por aqui. Afinal, o tsunami chegaria a nossas praias apenas como uma leve “marolinha”. Pura mentira. A crise está conosco, já fazendo muitos estragos:

1. As diferenças: É verdade que nossos bancos não estavam diretamente atrelados àquelas carteiras podres de créditos imobiliários; além disso, o nível de exposição dos bancos brasileiros é drasticamente menor do que no exterior. Diferentemente de um Lehman Brothers (35 para 1) nossos bancos têm uma média de exposição de 4 para 1. Por último, nosso Banco Central tem compulsório para tudo (lastro em moeda que os bancos são obrigados a deixar com o governo para as operações que realizam) – por isso pagamos os juros mais altos do mundo – e isso faz com que haja uma fonte rápida de liquidez, se esses valores forem revertidos ao mercado, via rede bancária.

2. As similaridades e conseqüências comuns: Nesse mundo interligado, todos os bancos possuem operações internacionais e alguns têm no exterior as próprias matrizes. Todos, de uma forma ou de outra, financiam capital que vai para o mercado especulativo: quer no exterior; quer em aplicações cambiais; quer no mercado de ações. Assim, várias empresas – todas essas financiadas por bancos – constatam perdas irrecuperáveis e espetacularmente enormes, como têm sido o caso da Sadia (R$760 milhões), Aracruz (R$1,24 bilhão) e do Grupo Votorantim (R$2 bilhões). Com o mundo, lá fora, parado, nossas exportações desaparecem. A Balança comercial de setembro – que ainda não reflete praticamente nada da crise, já caiu mais de 30% comparando com o mesmo período no ano passado. Isso significa empresas diminuindo de tamanho ou fechando; desemprego; inadimplência; redução dos negócios em todas as áreas. O mercado de ações despenca, como no exterior, estando ele igualmente inflado com os papéis fora da realidade patrimonial de cada empresa. Muitos perdem 50, 60, 75% do dinheiro que aplicaram a apenas alguns meses atrás. Os grandes Bancos “sentam em cima do capital” – não movimentam, não emprestam. Os esforços do governo – em aumentar a circulação de valores na economia, liberando os depósitos compulsórios dos bancos, têm pouco efeito a curto e a médio prazo. Somem os financiamentos a longo prazo que possibilitavam ao brasileiro a compra de um carro novo e outros bens de consumo. Cai o preço dos imóveis, pois não há compradores, nem financiamento. Cai o valor patrimonial dos bancos – as ações de grandes bancos colocadas no mercado externo, como Itaú e Bradesco, caem mais de 20 bilhões (30%) em poucas semanas. Começa um processo de desconfiança na praça e, como no resto do mundo, ninguém sabe ainda o fim desse filme...

3. A alta do dólar: Esse foi o reflexo mais imediato e mais surrealista. Ficamos intrigados - "Mas a crise não foi gerada pelos Estados Unidos; não são eles que estão com problemas; como é que a moeda deles fica forte a nossa vai para o espaço"? Exatamente porque valores não estão sendo movimentados na economia global e as instituições financeiras procuram o abrigo no dólar e nas garantias do governo americano, ele sobe e se fortalece. Resultado interno, em nosso país: alta intensa, instabilidade, queima de reservas, possível manutenção em um patamar significativamente mais alto do que nos últimos meses. Resultado que sentiremos a curto prazo: aumento de todos os insumos e produtos importados. Prepare-se para gastar mais, quando for à Rua 25 de março!Daqui a alguns dias postaremos a segunda parte, pesquisando o que a Bíblia tem a nos ensinar sobre a crise de 2008 e os fatores que a precipitaram, bem como sobre qual o papel do governo em tudo isso.